15:00 – Rio de Janeiro.
Se eu estivesse no sul, minha avó já estaria pensando no quitute do café da tarde. Eram tantas coisas gostosas que só de pensar fico com água na boca. É claro que trago para meu dia a dia, muitas dessas receitas, mas algumas, me parece que só ela acertava. Credito esse “achismo”, à experiência completa: a casa, o cheiro da lenha, o frio, a avó, as conversas, e não apenas a comida por si só.
“Comida é tudo o que somos. É uma extensão da sua história pessoal, da sua região, do seu bairro, da sua tribo, da sua avó. A comida é inseparável dessas coisas desde o princípio.”
Anthony Bourdain
Mas o tempo não pode ser recuperado. Hoje, após ter vivido em diversas cidades, moro no Rio, nessa cidade maravilhosa! Aqui, construí amizades, formei uma família e tive o privilégio de colaborar com empresas incríveis, incluindo a VintageMyHomeBrasil, que atualmente é minha grande parceira. Louças e comidas caminham juntas, assim como poesia, arte e música estão entrelaçadas na gastronomia.
Em uma tarde ensolarada, compartilhei com ela, em primeira mão, o lançamento do meu primeiro E-book. A conversa foi tão agradável, fluía tão naturalmente, que abordamos gostos pessoais, meu início da jornada, meus estudos, paixões e, é claro, comida. Decidi compartilhar um pouco desse bate papo aqui com vocês, e também em primeira mão.

VMHB – Qual é a sua primeira lembrança relacionada à cozinha e como essa experiência influenciou sua paixão pela culinária?
DI – Quando comecei a cozinhar com minha vó, foi por extrema necessidade, afinal meus pais trabalhavam e minhas irmãs mais velhas estudavam. Então vó Jucira iniciava comigo o almoço: o arroz, o feijão e quando percebi lá estava eu fazendo o cardápio completo, e eu só tinha 11 anos. Então é impossível dissociar essas lembranças: da mulher afável de cabelos brancos, do fogão a lenha, dos aromas que saíam das panelas, da lenha crepitando, do despertar de minha paixão pelas comidas.
VMHB – Como você acha que as memórias afetivas e emocionais estão relacionadas à comida, tanto na preparação quanto na experiência de comer?
DI – Para mim as memórias são os rituais, os cheiros, os padrões. Todo domingo era dia de fazer macarrão com frango frito e salada maionese, na casa da vó. Então, esse ritual do encontro, de fazer e amassar a massa, de passar pela máquina, de cortar em tirinhas, de colocar para secar, cortar a batata em pequenos cubos para a maionese, estarão sempre ligados a minha memória afetiva e olfativa,seja na hora de preparar novos pratos, seja na hora de comer. A mesa farta era o ponto de encontro da família completa. E essa experiência maravilhosa, só a comida faz: reunir, agregar! Eu acredito que todo mundo tem uma memória afetiva de alguma comida: um pudim, um pão caseiro, uma sobremesa ou uma sopa. E toda vez que vou preparar certas receitas eu lembro de meu pai ou de minha vó. lembro de como eles preparavam e lembro do que eles diziam ao servir.
“O prazer dos banquetes não está na abundância dos pratos e, sim, na reunião dos amigos e na conversação”
Marco Túlio Cícero
VMHB – Você tem alguma tradição familiar relacionada à culinária que você mantém viva em sua própria cozinha?
DI – Tenho algumas. Lá em casa, não existe churrasco sem salada maionese, ela me acompanha desde criança. E hoje em dia, eu crio as mais diversas receitas: troco a batata inglesa pela batata baroa ou o molho branco, vira molho de wassabi. E quando o inverno chega, eu faço um pequeno estoque de pinhão. Adoro comer ele cozido, e sirvo temperado com sal, pimenta, azeite e salsinha. Isso para mim, é perfeito! No sul, temos a Festa do Pinhão, que é a comemoração da chegada do fruto no inverno. Usamos de diversas maneiras: na brasa, na chapa do fogão a lenha, cozido, moído, enfim, ele é super versátil e para mim é impossível ficar sem!!

Pinhão, uma das delícias do sul. O fruto da araucária. Você gosta?
VMHB – Como você vê o ato de cozinhar? Como uma forma de expressão pessoal ou de conexão com outras pessoas?
DI – Cozinhar para mim é mais do que uma simples atividade culinária; é uma terapia, uma celebração. É uma forma de expressar carinho, afago, uma conexão comigo mesma e com os outros. Acredito firmemente que a comida feita por quem não ama cozinhar, por quem não tem paciência ou por quem não compreende a beleza dos ingredientes jamais terá o mesmo sabor, a mesma satisfação, ou nutrirá a alma como deveria.
Cozinhar é um ritual de escolha de ingredientes, uma experiência sensorial onde os aromas se misturam e as cores se destacam. Quem pode resistir ao aroma irresistível de um bolo caseiro recém-saído do forno ou à maciez reconfortante de um pão fresco? É uma experiência única e incomparável. Para mim, na gastronomia, menos é mais. A simplicidade muitas vezes revela o verdadeiro sabor dos alimentos. Além disso, percebo que comemos primeiro com os olhos. Adoro compartilhar receitas, explorar ingredientes na feira e até mesmo reinventar pratos tradicionais, inserindo um toque pessoal. Já recebi convidados com diferentes preferências e restrições alimentares, e sempre busquei adaptar o cardápio para atender a todos. Em suma, é a comida que nos une – nossos gostos, nossas preferências, até mesmo nossas intolerâncias alimentares. É através dos sabores que criamos laços e conexões genuínas uns com os outros.
“Comer bem e correr risco são coisas que andam juntas. De vez em quando uma ostra não vai cair bem. Isso significa que você deveria parar de comer ostras? De jeito nenhum.”
Anthony Bourdain
Por fim, é a comida que nutre não apenas o corpo, mas também a alma. A experiência de comer transcende a mera alimentação. Devemos encarar a comida como uma forma de nutrir não apenas nosso corpo físico, mas também nossa alma e espírito. É fundamental entender que devemos viver para comer de forma equilibrada e consciente, buscando o prazer e a gratificação não apenas na saciedade, mas também na conexão com os alimentos e suas origens.
Essa perspectiva é válida para todos, independentemente do nível de habilidade culinária. Todos têm o potencial de criar pratos deliciosos. Basta ter vontade e praticar. A cozinha é um espaço de experimentação e aprendizado contínuo, onde cada tentativa nos aproxima mais da maestria culinária. Então, que cada refeição seja uma oportunidade não apenas de alimentar o corpo, mas também de nutrir a alma e explorar novos horizontes gastronômicos.
E para quem quer despertar seu lado chef, com receitas do mar, vendo aqui o meu peixe: https://hotm.art/receitasbydi0624